Os plásticos vem se acumulando em grandes proporções nos continentes e nos oceanos ao longo das últimas décadas, se tornando um problema para estes ambientes. O aumento da produção e do consumo destes materiais, tais como: sacolas plásticas, embalagens de produtos, fibras de poliéster de tecidos (que são liberadas na água após a lavagem das roupas), produtos descartáveis, como garrafas pet, copos e canudos, traz como consequência o acúmulo de plásticos nos ecossistemas.
Os resíduos plásticos não se decompõem, ou seja, não desaparecem na natureza, apenas se fragmentam por ação ultravioleta (UV) ou abrasão, formando o microplástico, partículas muito pequenas ou fibras com tamanho inferior a 5mm, que ficam em suspensão na água, tornando-se ingeríveis por microorganismos, como o zooplâncton. Os microplásticos podem acumular toxinas do ambiente por adsorsão, como por exemplo os POPs (poluentes orgânicos persistentes) que podem ser transferidos aos lipídeos, e assim acumular estes contaminantes na cadeia trófica, podendo chegar a nós, seres humanos, através da ingestão de microplásticos e dos contaminantes que estão ligados a eles. Estima-se, atualmente, que existem mais de 5,25 trilhões de micropartículas de plásticos flutuando nos nossos oceanos.
Estudos realizados pelo Laboratório Marinho de Plymouth, Inglaterra, mostram que os microplásticos podem ser ingeridos por ciliados, cladóceros, copépodes, pequenos peixes e que a ingestão dos microplásticos pode levar a uma redução das taxas de ingestão, a deficiências energéticas, deficiências reprodutivas e ao aumento da mortalidade. Além disso, foi observado que a presença de microplásticos pode alterar a taxa de sedimentação das pelotas fecais do zooplâncton e assim, alterar a ciclagem de nutrientes nos ecossistemas aquáticos. A redução da sedimentação das pelotas fecais pela presença de microplásticos leva a uma diminuição da matéria orgânica que chegaria no bentos e aumenta a quantidade de material particulado na coluna d’água.
Em estudos sobre a ingestão e a transferência de microplásticos na cadeia alimentar planctônica, pesquisadores do Instituto Finlandês de Meio Ambiente expuseram misidáceos, copépodes, cladóceros, rotíferos, larvas de poliqueta e ciliados a microesferas fluorescentes de poliestireno de 10µm. Os experimentos mostraram a ingestão das microesferas por todos os táxons estudados. Além disso, observaram que a ingestão das micropartículas pode ocorrer indiretamente, via predação de outros organismos zooplanctônicos, visto que análises ao microscópio do intestino dos misidáceos revelaram presa zooplânctonica com microesferas após 3h de experimento.
É fato que os microplásticos tem um efeito negativo na saúde do zooplâncton e dos ecossistemas marinhos. O que podemos fazer para minimizar estes efeitos? Podemos evitar o consumo de plásticos descartáveis, de cosméticos com microesferas de plásticos (microbeads) presentes em alguns esfoliantes, sabonetes e cremes dentais, reduzir, reutilizar e reciclar. Adotar práticas sustentáveis e espalhar a informação são ações que estão ao nosso alcance. É hora de perceber que a nossa saúde está totalmente ligada à saúde dos oceanos, do nosso plâncton e de todos os animais das nossas águas.
Principais Fontes:
Renske Vroom, Claudia Halsband, Ellen Besseling, Bart Koelmans. Microplastic ingestion: the role of taste. ICES/PICES 6TH ZOOPLANKTON PRODUCTION SYMPOSIUM 2016. Acesso em 20 de janeiro de 2019. http://www.ices.dk/news-and-
Pennie Lindeque, Alice Wilson McNeal, Matthew Cole. Plastics and Plankton: What do we know?ICES/PICES 6TH ZOOPLANKTON PRODUCTION SYMPOSIUM 2016. Acesso em 20 de janeiro de 2019. http://www.ices.dk/news-and-
Matthew Cole, Pennie Lindeque, Elaine Fileman, Claudia Halsband, Rhys Goodhead, Julian Moger, and Tamara S. Galloway. Microplastic Ingestion by Zooplankton. Environmental Science & Technology 2013 47 (12), 6646-6655. DOI: 10.1021/es400663f Acesso em 20 de janeiro de 2019. (https://pubs.acs.org/doi/abs/
Outi Setälä, Vivi Fleming-Lehtinen, Maiju Lehtiniemi. Ingestion and transfer of microplastics in the planktonic food web. Environmental Pollution, Volume 185, February 2014, Pages 77-83. Acesso em 20 de janeiro de 2019. https://www.sciencedirect.com/
